O material que vou apresentar a
seguir é uma síntese de um artigo publicado no jornal Tribuna do Norte do dia
09 de junho de 2013 escrito por Rafael Barbosa sobre o trabalho da assistente
social Hilderline Câmara de Oliveira que estudou e defendeu um doutorado sobre
a linguagem dos detentos dentro do sistema prisional.
Foram 15 anos dentro do sistema prisional
do Rio Grande do Norte, em que Hilderline disse ter se deparado com uma
sociedade organizada, com leis, sistema econômico formado e até dialetos
próprios. Falamos de uma sociedade organizada socialmente, cercada por muros e
sob vigilância 24 horas. O resultado desse trabalho é registrado no livro “A
linguagem do cotidiano prisional – Enigmas e Significados”.
Sem uma estrutura adequada, a
população dessa sociedade se vira como pode para sobreviver, criando leis
próprias e uma linguagem toda específica.
As celas, são chamadas pelo
presidiários de “casas” e suas paredes revestidas de cartazes que trazem muita
das vezes pensamentos dos presos que lá residem. É uma maneira que eles
encontram para esconder um pouco de toda sujeira e degradação das paredes.
Entre os presos, o mercado opera
na base do “escambo”, onde muitos trocam serviços ou objetos pessoais por
utensílios de outro colega e que lhe for
útil.
“Trocam uma faxina por um produto de limpeza que o outro possui
sobrando. Mantém relações sexuais em troca de produtos de higiene”, resume
Hilderline.
O comércio de drogas também
acontece e de uma forma muito criativa. Os presos utilizam por exemplo, gatos,
que com drogas amarradas ao pescoço, circulam entre as celas fazendo o transporte
da mercadoria.
Outro serviço muito informal, mas
que ajuda a movimentar o sistema prisional é a confecção de tatuagens. Com
maquinário artesanal e tinta de tecido, os presidiários tatuam no corpo, símbolos
e frases de uma linguagem peculiar que traduz a relação dos crimes que
cometeram.
A simbologia das tatuagens, das
pichações e gírias, servem como um código de comunicação peculiar e específico
entre os detentos. São formas estabelecidas pelo presos que se adéquam e se
reinventam com o passar dos anos.
Esse dialeto de símbolos, gírias
e associações de palavras são utilizados pelos apenados com a finalidade de
dificultar a interpretação da administração penitenciária e de seus agentes.
Ainda segundo Hilderline, a
penitenciária “é um mundo dentro de uma
sociedade. É uma outra sociedade, um outro mundo, dentro de muros. Um mundo que
tem um cotidiano, que tem regras, normas e tem a sua linguagem, e pessoas que
se respeitam entre si, dentro desta realidade.”
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